Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Machado e Silva trocam experiências nas aulas de informática. O objetivo é dominar a internet e fazer amigos
Os filhos se mudaram e os netos cresceram. E agora? Como usar a tecnologia sem a ajuda da geração conectada? Para se comunicar com as filhas, que não moram mais com ele, o aposentado João Otelo Silva, 77 anos, decidiu aprender noções básicas de internet.
- As meninas me ensinaram a conversar com elas por vídeo ou mensagem no celular. Diante do desafio, senti que precisava conhecer mais o mundo digital - diz ele.
Com o passar do tempo, o aposentado e a esposa Araceli Aires Silva, 74 anos, começaram a participar de um projeto de inclusão digital para idosos, oferecido no Bairro Itararé. Desde então, estão animados com os resultados.
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- Enviar textos, áudios e vídeos para as meninas e saber usar o caixa eletrônico no banco são pequenas ações que nos deixam felizes. Como não somos da geração tecnológica, entender o funcionamento destas engrenagens nos torna mais independentes - conta Silva.
O idoso comemora também a conquista de amigos nas aulas de informática. Araceli não tem frequentado o curso devido a um tratamento de saúde, mas pretende voltar logo.
SOLIDARIEDADE
O professor do casal é o alegretense Heidimar França Machado, 40 anos, residente do Coração do Rio Grande desde 2010. Mestre em Ensino de Ciências pela Universidade Federal do Pampa, em Bagé, Machado defende a importância da inclusão digital para idosos.
- Ela surge de uma demanda social. É preciso integrar e aproximar as pessoas na era tecnológica. Isso proporciona independência virtual, além de momentos de confraternização e sociabilidade.
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O professor conta que o aprendizado é mútuo, já que o carinho e o desejo por aprender são compartilhados a cada encontro.
- Tudo é novidade. Cada aula é um desafio. A satisfação pela conquista deles é a recompensa. São mais que alunos. São amigos que ficam guardados em nossa memória afetiva - comenta Machado.
Para o voluntário, fazer o bem para outras pessoas é gratificante. Para ele, quem ajuda também é beneficiado, visto que tem a oportunidade de contribuir com a sociedade por meio de ações que possam proporcionar qualidade de vida a outros.
O INÍCIO
Machado começou o voluntariado no Grupo Esperança, organização de apoio e prevenção a doenças sexualmente transmissíveis. Hoje, ele participa da Associação Beneficente ANKH, em Santa Maria, que atua na arrecadação de donativos não perecíveis e vestuários, destinados a pessoas carentes. O grupo oferece também oficinas de artesanato,informática e músicas para crianças do bairro.
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DE BEM COM A TECNOLOGIA
De acordo com a psicóloga Nayana Palmeiro, a inclusão digital na melhor idade traz muitos benefícios, entre eles, a oportunidade de se comunicar com familiares e amigos que estão longe do convívio, já que, cada vez mais, as pessoas recorrem às redes sociais para interagir.
Nayana acrescenta que dominar o mundo virtual na terceira idade não serve apenas para entretenimento, mas para atender necessidades diárias, tais como o uso de caixa eletrônico, agendamento de consultas on-line e outros serviços executados na internet:
- O segredo é ter equilíbrio com as tecnologias, independentemente da idade. A internet aproxima quem está longe. Mas se é feito mau uso, pode afastar quem está perto.
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Para Silva, as aulas com Machado, além de produtivas, são essenciais. Ele, que comemora o avanço no espaço virtual, já usa vários aplicativos com facilidade:
- É muito bom contar com pessoas que nos ajudam a crescer de alguma forma, que investem tempo para melhorar o dia a dia do outro. Só tenho a agradecer a Heidimar.
*Colaborou Natália Venturini